#04/½ Sessão entrevista - Prática da sutileza num mundo bárbaro
As respostas do Thiago Amud foram cortadas no email anterior (um sacrilégio), mas aqui e no site você consegue ler tudinho | Junho de 2024
Sessão entrevista ou essa minha mania de fazer perguntas
Respondedor da vez: Thiago Amud: um compositor de letras, ou um escritor de músicas, ou um arranjador de palavras, ou um músico ficcionista, ou um leitor de mundos, ou um tradutor de nuances que não gosta de crisântemos azuis.
Uma pergunta clichê: Qual flor nasceu no asfalto do Drummond?
Não sei o nome, mas ela ainda está lá, onde o poeta a viu.
Uma pergunta meio absurda: Me diga um detalhe que para você é capaz de resumir a história do mundo.
Eu queria poder sustentar a loucura que um dia me fez botar numa música que joaninhas rodeando uma pedra de litoral são uma cosmogonia.
Ou, meigo, responder algo como “um casal de anciãos dançando tango”.
Mas nos últimos anos a História me apunhalou, o que vem me fazendo pouco imaginativo e muito especulativo — coisa fatal para um artista.
Por isso não consigo não voltar a um enigma místico-social: o detalhe capaz de resumir a história do mundo ainda está por se revelar; uma nudez, algo como o desocultamento de um sentido.
Seria gentil se fosse incomensuravelmente pequeno, como se todo mundo simplesmente acordasse no meio da noite ao ouvir um rio parando de fluir.
Uma pergunta sobre uma palavra: Quantas letras existem na palavra tudo?
Em dia útil, quatro. Em dia feriado, todas as outras vêm vadiar.
Uma pergunta sem resposta certa: As guerras terão fim um dia?
A gente precisa se adaptar ao fato de que provavelmente nunca, mas ao mesmo tempo agir como quem sabe que um dia sim.
Hoje há guerras em curso que nos fazem pensar que elas é que um dia darão um fim a tudo. Mas queremos estar do lado de quem escolhe a vida, de quem não se cansa, e não de quem aceita a inevitabilidade de um fim do mundo.
Certo pessimismo quanto à índole da humanidade como um todo é tentador. Mas precisamos ir criando modos de lidar com isso, nem que seja para não virarmos uns cínicos, comodamente deitados no sofá da sala pensando “fiz minha parte, cansei.”
Faça uma pergunta para minha afirmação: O ser humano nasce bom e mau e é corrompido e ensinado.
O que uma bela e monstruosa criança prodígio diria para a professora que tivesse acabado de lhe ensinar aquela cirandinha: “passa, passa, gavião/ todo mundo é bom”?