O fim de um romance
Julho de 2025, uma explicação que ninguém pediu, e uma divulgação porque não tem outro jeito.
Esta newsletter começou quando eu estava desempregada, sem casa fixa, sem quase nada fixo, coisas de quem tem signo de água, mas não é sobre isso que quero falar. Quero dizer que começar a escrever aqui me fez achar um novo jeito de escrever, um jeito livre, guiado pelas citações que eu aleatoriamente busco em livros, influenciado pelo meu apreço ao não gênero — um desestilo que caia bem com minha rotina de insônias e futuros nublados.
A vida aconteceu e o trabalho voltou, ufa. Ainda que eu tenha muita saudade (muita mesmo) do ócio e quase saudade (quase mesmo) das insônias (não delas em si, mas de passar a madrugada lendo todos os contos da Clarice e saber que no dia seguinte eu poderia dormir sem me preocupar). Porém, aquele papo, preciso pagar as contas e ler Clarice só gera mais gastos, nem que seja com entorpecentes.
Mas este preâmbulo não pretende acabar com esta news, apenas dizer que: este mês o texto daqui saiu lá — lá na Revista Odisseu, na qual ganhei uma coluna que, veja só, me permite toda essa liberdade que tanto busco ao escrever (e nem sempre alcanço, mas tento, sou esforçada).
Mundo ideal: escrever lá e aqui, mas quando não der, ou se eu sentir que não existe demanda para tanto falatório, faço lá e divulgo aqui, como é o caso deste texto que então digito.
Após esta introdução que poderia ser uma frase, deixo abaixo um gostinho do texto de lá, que conta do fim do meu romance — o literário, coração vai bem — Parapeito, lançado pela Cachalote, e que logo mais está nas livrarias, mas se quiser, já pode garantir o seu AQUI.
O fim de um romance
“O alcance do desejo se define na ação: belo (em seu objeto), frustrado (em sua tentativa), sem fim (no tempo)”
Eros, o doce amargo; Anne Carson
Se eu não acabar logo com esse romance, pulo do parapeito do sexto andar. Se eu não acabar logo com esse romance ele acaba comigo e com a minha carreira que mal começou ou nem começou, apenas sofreu um tropeço, ou tropeçou, não estou certa se foi caso de ato passivo ou ativo, tropeçou e no cavaco se viu dentro do jogo. Se se eu não acabar logo com esse romance, deixarei de acreditar nos fins, todos eles: da água, do pinguim-africano, da arara-azul-de-lear, do tatu-bola, da ararajuba, dos livros impressos, de todas as profissões menos as dos biólogos e programadores e especialistas de energias, da gentileza, dos recifes de corais, da minha procrastinação, do especial de Natal do Roberto Carlos, da fé, da fé na fé, das comidas de verdade e não de sabor idêntico ao natural, do natural. Se eu não acabar logo com esse romance, nada mais no mundo acabará e viverei em um eterno limbo da beira do fim.
Em um eterno limbo da beira do fim
Eu tenho medo dos abismos, ainda que reconheça a sua importância. Os abismos me lembram da fundura do mundo e isso me ajuda a manter um certo equilíbrio. Não que eu acredite no equilíbrio, acredito na tendência ao, mas isso é assunto para outros fins.
Teve uma vez, dirigindo em Belo Horizonte – minha cidade natal e o único lugar onde dirijo, pois estou acostumada ao carro dos meus pais e aos caminhos feitos a partir da casa dos meus pais –, eu estava em busca de um retorno na saída da cidade e entrei na conhecida rua dos motéis que fica paralela à BR. Até aí, tudo bem, já tinha idade suficiente para não me preocupar com esse julgamento, me vissem eu faria até piada, ah sim, fui fazer pesquisa de campo. O problema foi eu quase me jogar em um pequeno precipício (me jogar em ou me jogar de?), achei que era uma rua (erro casto, achar que é plano o que te coloca em queda livre), não era.
Freei a tempo. Me livrei da queda, da destruição total do carro dos meus pais e das manchetes de jornal (acho que na época ainda se lia jornais): Jovem capota o carro dos pais em um precipício da famosa rua dos motéis.
Li Zaranza há cerca de 2 anos e escrevi um e-mail sobre minhas impressões. Citei até um concurso de contos do Sesc de Brasília que nos publicou juntos, pra tentar justificar o senso de intimidade que me fez querer te contar minha opinião sobre o livro. Escrevi e não mandei. Mas recebo com alegria a notícia de que vem um romance agora, certamente lerei assim que possível, entremeado pelas suas publicações na coluna. Parabéns, Rita.